Mais do que entregar equipamentos sociais às comunidades, trabalhar o senso de pertencimento dos beneficiados é parte das ações executadas pela Prefeitura de Aracaju, que atua para fazer com que a população, sobretudo de áreas vulneráveis, possa ter, de fato, uma transformação em sua rotina.
Neste sentido, como contrapartida ao financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ao Programa de Requalificação Urbana “Construindo para o Futuro”, a gestão municipal realizou, nos últimos 30 meses, um extenso Projeto de Trabalho Social (PTS) nos bairros Santa Maria e 17 de Março, o qual foi concluído nesta quinta-feira, 2.
Fazem parte do Programa de Requalificação Urbana e já foram entregues pela gestão municipal, no 17 de Março, nove praças. No momento, estão em execução as obras de um Creas, uma Casa Lar e duas praças no bairro Santa Maria. E ainda estão previstas as obras de um Cras e de um Centro de Atenção Psicossocial.
A diretora de Gestão Social de Habitação da Assistência Social de Aracaju, Rosária Rabelo, ressalta que o PTS é um olhar diferenciado que a Prefeitura de Aracaju tem para com a cidade e, essencialmente, para a população mais vulnerável.
“É um trabalho muito importante porque, nesses territórios, a Prefeitura entregou e continua entregando uma gama de obras que têm trazido qualidade de vida aos moradores dessas localidades. Esses territórios têm se transformado, praticamente, em outra cidade porque têm sido munidos de ampla infraestrutura. E isso se torna ainda mais relevante porque se trata de localidades onde residem famílias vulneráveis. Portanto, o PTS veio para trazer a compreensão de como podem utilizar esses equipamentos, para que possam entender a educação patrimonial que é a preservação desses espaços, espaços esses utilizados pela própria população para lhes trazer mais bem-estar, mais qualidade de vida. Para além da educação patrimonial, a educação ambiental, que é fundamental porque é isso que dá sustentabilidade à vida, sustentabilidade não apenas ao meio enquanto um espaço ambiental, mas à como um todo”, salienta Rosária.
Ao longo do período de execução do PTS, contudo, paralelo à execução das obras, foram realizadas atividades como Plantão Social, cursos de auxiliar administrativo, cuidador de idosos, formatação de computadores, comunicação digital, pallet, hambúrguer gourmet, garçom, operador de caixa, liderança, entre outros; oficinas de dança, teatro, grafite, enfeites natalinos e outros; eventos Criança na Praça e de Saúde; cinema na comunidade; Workshop sobre violência urbana; entre outros.
“O trabalho realizado se preocupou, portanto, não só em ofertar equipamentos sociais, mas garantir o desenvolvimento econômico, a renda dessas famílias, por isso a execução de tantos cursos e oficinas. Hoje, vivemos num mercado extremamente competitivo e essas famílias precisam fazer parte deste mercado e, portanto, ter formação para ter maior competitividade. O PTS é um trabalho que olha para o cidadão de forma integral, como sujeito de direito que, além de ter direito ao acesso a esses serviços e a esses espaços, tem direito a uma vida mais digna”, destaca a diretora.
Conforme a coordenadora do Projeto de Trabalho Social, Renata Gois, as atividades foram executadas com base em três eixos: mobilização, organização e fortalecimento social; educação ambiental e patrimonial; e desenvolvimento socioeconômico.
“Foi um trabalho muito rico, em que a comunidade pôde ter oportunidade de fazer vários cursos profissionalizantes, inclusive muitas dessas pessoas que participaram já conseguiram ser inseridas no mercado de trabalho. Acredito que as ações que realizamos sobre educação patrimonial foram de muito sucesso, inclusive com as escolas, porque trabalhamos em parceria. Hoje, saímos da comunidade com satisfação, por termos conseguido atingir o objetivo do Projeto de Trabalho Social, que é justamente mobilizar a comunidade, fomentar o sentimento de pertencimento e cuidado do território e, principalmente, autonomia financeira. Que essas pessoas possam usufruir desses equipamentos da melhor maneira possível e se desenvolvam junto com o bairro onde vivem”, pontua Renata.
Resultados
Durante os 30 meses de PTS, 3.213 pessoas foram beneficiadas, seja por meio dos cursos, oficinas, plantão social ou demais atividades.
Paralelo ao trabalho social, as equipes realizam, ainda, uma pesquisa junto aos demais moradores desses bairros para avaliar o grau de satisfação com as obras e atividades executadas nos últimos anos.
De acordo com os dados levantados, numa entrevista que envolveu 3.112 pessoas, 64% dos entrevistados avaliaram as mudanças na mobilidade urbana como excelente ou boa. Com relação à coleta de lixo, 97% avaliaram como excelente. Sobre a oferta de saúde, 87% classificaram entre excelente e regular. No quesito educação, 91% ficaram entre excelente e regular. Quando o assunto é segurança pública o percentual de 69% considera boa ou regular. Na área de limpeza urbana, 90% analisam numa escala entre excelente e regular. Na avaliação de 62% os equipamento e áreas de lazer são entre bons e excelentes.
Ainda sobre o PTS, 87% dos entrevistados consideram como excelente ou bom. E, para 84% dos entrevistados, os bairros tiveram uma melhora significativa para o que eram antes.
Vidas transformadas
Além dos números demonstrarem o êxito da iniciativa, a história das pessoas diretamente beneficiadas é também um indicador de sucesso do PTS, a exemplo do que ocorreu com Elizeu Marques, de 57 anos. De catador de latinha, ele viu suas perspectivas mudarem e, hoje, trabalha com formatação de computadores e mira a comunicação digital.
“Eu já tinha parado de catar latinha e comecei a rodar com som de bicicleta levando as propagandas. Um dia, vi um panfleto mostrando os cursos e quis ver como era e isso foi muito importante para mim. Um dia desses, vi uma placa de computador e resolvi mexer e a fiz funcionar. Hoje, é com isso que trabalho, formato o computador das pessoas e quero fazer outros cursos de comunicação digital”, conta Elizeu.
Há 11 anos morando no 17 de Março, ele se enxerga ao ver o crescimento da localidade que praticamente viu nascer.
“Dá mais gosto de morar no 17 de Março, com ruas organizadas, posto de saúde, escola e até maternidade. Cheguei num momento em que não tinha quase nada, aqui, e, hoje, temos um bairro bonito e com muitos equipamentos. Sinto como se tivesse crescido junto com ele [o bairro]”, revela o morador.
Quem também viu sua rotina mudar foi Rosângela dos Santos, de 54 anos. Mas não só a rotina, o sentimento, também.
“Perdi minha mãe, no ano passado, e entrei num estado de depressão, sem ter vontade para nada. Até que recebi a mensagem pelo celular, falando sobre o curso de teatro e de dança. Quis tentar. Foi maravilhoso poder estar com outras pessoas, numa atividade boa para a cabeça e para o corpo. Me senti muito bem. Já tinha feito outros cursos, mas esse me ajudou ainda mais”, relata Rosângela.
Atualmente, ela não só conseguiu cuidar da depressão, como também ganhou energia para retomar projetos. “Voltei a estudar e, com certeza, ainda vou fazer outros cursos. O que não quero é ficar parada, ainda mais porque fiz amizades nesses cursos”, frisa animada.